Brasileiro e japonês (ele). Pesquisa nacionalidade, imigração japonesa e teoria marxista do direito. Dá aulas particulares de japonês. Faz parte do
@cdinamene
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Sobre O menino e a garça - coisas que podem ter escapado
Um fio com algumas curiosidades sobre o último filme de Miyazaki Hayao. Um olhar a partir de alguns elementos linguísticos, culturais e biográficos do diretor. Alguns mais conhecidos, outros menos. Com spoilers.🧶
Pô galera na moral se você estiver num supermercado na Liberdade e precisar de informação sobre comida, não pergunta pro primeiro asiático que estiver na sua frente. Pergunta pro atendente da loja.
Até onde vejo hoje, na Faculdade de Direito da USP só existem 6 línguas capazes de produzir conhecimento: português, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão. Com o aumento do meu repertório bibliográfico em japonês, tenho notado uma coisa interessante nos últimos tempos.+
Estou num momento um pouco difícil na vida, mas preciso dizer um negócio pra não perder o timing.
Minha mãe traduziu o primeiro volume da primeira edição de Dragonball.
As citações que faço de produções em japonês são muitas vezes recebidas com algo próximo de "piadas". Às vezes, "leem" em voz alta o título original (sendo que eu sempre traduzo), como que mostrando a exoticidade daquilo. E no fundo eu ouço sempre uma conotação de orientalismo.+
É uma coisa muito difícil de explicar, e acho que demorei até demais para perceber isso. As reações são de um misto de "admiração" com um pouco de irreverência que traz, no fundo, um desdém. Algo na linha: "muito bom, mas você não espera que eu realmente conheça isso, né?" ou+
O que eu não engulo é o professor, pegando um autor novo com ideias legais, que eu estou apresentando, não conseguir engajar na discussão. Ele vai para o que ele conhece, a base teórica "universal" (europeia), sem ousar falar das ideias novas que são o coração do meu trabalho.+
"Tá, mas eu duvido que você tenha realmente lido isso aqui. E, se você leu, não tem como eu saber, porque obviamente não conheço essa língua exótica". É inválido que eu tenha, como base teórica de um estudo, produções em japonês, porque impeço que pessoas mais graduadas avaliem.+
O mais louco disso é que, desde a iniciação científica, meus temas de estudo envolvem sempre... o Japão! E bem, é óbvio que eu não espero que as pessoas já tenham tido algum contato com os autores que eu cito. O objetivo de citar é justamente apresentá-los e propor a discussão.+
Ah sim, um adendo. Isso é sobre japonês, uma das línguas mais faladas do mundo. Representante de um país central do capitalismo. Uma língua que já foi de um império colonial. Que tem curso de graduação na mesma universidade.
Imagina se eu estudasse, sei lá, a Indonésia.
Hoje dei uma resposta mal educada e fiquei me sentindo mal mas porra toda semana isso sabe, eu tô literalmente fazendo compras no meu bairro, não sou uma enciclopédia.
A japonesa intercambista postou um story impressionada com a montanha de camisinha de distribuição gratuita em algum posto. “No Brasil é de graça então quem não usa é pura e simplesmente um babaca 👍”
Às vezes eu esqueço que transar não é um direito básico em alguns lugares
Sendo que o que eu tento fazer é justamente essa ponte, esse diálogo com europeus. Claro, como os próprios japoneses fazem, como a gente aqui no Brasil faz. Aí ao invés de tentar ver como outra realidade interpreta essa mesma base, os caras simplesmente ignoram. Um desperdício.+
Falo isso com muita humildade. Não estou pretendendo ensinar ninguém. O que eu realmente sinto falta é que alguém mais graduado que eu leia a tradução/apresentação que estou fazendo de outros autores e discuta, me mostre erros e acertos. Porque é isso que fazem com os europeus.+
Se a bibliografia fosse francesa para estudar a França, então tudo certo. Todo mundo sabe sobre autores franceses e a sociedade francesa. A França é um caso que vale a pena estudar para entender o universal, mas qualquer coisa fora da Europa (ou dos EUA) não produz conhecimento.
mentalmente, que pode até ser capaz de se desenvolver na tecnologia (porque são "anormalmente" inteligentes), mas nunca nos moldes civilizatórios do Ocidente. Sendo que quem fez essa merda, no caso do Japão, foi a grande potência imperialista ocidental, os Estados Unidos.
derrota do fascismo imperialista japonês. Quando a gente simplesmente aponta o dedo e fala "uau, o Japão é homofóbico", a gente apaga que o mundo, em geral, é homofóbico; e cai na armadilha do discurso orientalista. O Oriente pintado como um mundo selvagem e atrasado+
Das traduções consolidadas que mais desgosto: oni = demônio/demon
O fio explica bem por que oni é algo bem diferente do que chamamos de demônio, mas pra além de tudo isso o que acho pior é que a palavra demônio tem muita conotação religiosa numa cultura cristã.
Demon Slayer em japonês é 鬼滅の刃 (Kimetsu-no Yaiba) e literalmente significa "Lâmina destruidora de Oni"
Nesse fio vou explicar o que é Oni e trazer uns exemplos de anime/mangá pra exemplificar 🧶
A questão do casamento homoafetivo no Japão é primeiro um problema do que é família e casamento no Japão. O sistema da constituição de 46 (que foi imposto pelos EUA, diga-se de passagem) manteve a estrutura legal da família japonesa do pré-Guerra, o koseki. Esse documento, que+
Mas, quando a gente diz (com razão) que o Japão é um país conservador e que vende uma imagem falsa de "descolado", "avançado" etc., não se pode medir isso pela régua do Brasil. Não vamos esquecer que aqui se mata muito LGBT, e embora o casamento seja uma conquista importante ele+
não acabou com questões estruturais do patriarcado que gera a homofobia. No Japão, a manutenção da ideologia conservadora é basicamente produto da merda que os Estados Unidos patrocinaram pra poder exterminar os comunistas que estavam avançando para tomar o poder depois da+
No Japão, o professor precisa se curvar para o imperador sim. E o imperador também se curva pro professor. Aliás, todo mundo se curva pra todo mundo, é assim que a gente se cumprimenta.
O sistema político japonês torna muito difícil a alternância de poder. Imagina um estado de São Paulo, com seu tucanistão, só que nacional, e durando 70 anos. O Japão é isso. Além disso, na década de 2010 (que foi quando o Brasil avançou no casamento homoafetivo, aliás)+
registra todas as pessoas de uma família, é um mecanismo extremamente complexo que foi base do sistema patriarcal do pré-Guerra. Nessa época, a herança ia toda para o primogênito, e o chefe de família tinha poder de direção sobre patrimônio, casamentos, etc. da família.+
sobrenome do homem. Então as mulheres japonesas quase todas perdem seu sobrenome quando se casam. Isso é só pra ilustrar o tamanho da merda que o koseki gera no cotidiano das famílias japonesas: manutenção do patriarcado a nível social e legal, uma coisa puxando a outra.+
Se já é assim na família tradicional, o que dizer da homoafetiva?
Aqui, uma questão de política: graças à ocupação e às escolhas dos EUA, desde 1950 o Japão é governado praticamente sem interrupções pelo mesmo partido conservador. Os 2 interregnos não passam de 5 anos somados.+
Depois da Guerra, algumas coisas foram reformadas, mas a base legal desse documento (koseki), não. O koseki atual é o principal responsável pelo fato de que até hoje os casais japoneses não podem adotar sobrenomes diferentes. Em 96% dos casos, por tradição, os casais adotam o+
Esse sempre foi um quebra-gelo que eu tive.
Além disso, quando brasileiros ouvem meu nome, eu sempre via um corte geracional. Os mais velhos diziam “tipo o Akira Kurosawa?”, os mais jovens diziam “tipo o Akira Toriyama?”.
E agora não há mais nenhum Akira pra eu me comparar.
o país estava nas mãos do ex-primeiro-ministro Abe Shinzou, que representa a ala mais à (extrema) direita desse partido de direita. Ele tinha praticamente poder absoluto, e chegou a ter 2 terços do Congresso. Ou seja, nenhuma pauta de costumes minimamente liberal avançava.+
É só imaginar o que seria do casamento homoafetivo no Brasil se B0lsonaro tivesse chegado no poder pouco antes. Uma das principais aliadas do Abe é uma deputada famosa por ser muito homofóbica, com uma declaração célebre do nível do Levy Fidelix sobre homossexuais e reprodução.+
Sobre o imperialismo japonês
A grande dificuldade de qualquer debate sobre essa questão é a contradição do Japão ao não se encaixar na nossa divisão de mundo: colonizador X colonizado, branco X racializado, centro X periferia do capital. No fundo, é a divisão algoz X vítima.+
Eu também sempre levanto esse ponto nas aulas. As pessoas gostam de "zoar" a "pronúncia japonesa" dos empréstimos do inglês, mas isso é um processo bem natural em qualquer língua.
O principal ponto que me parece ser a causa dessa "confusão", por vezes deboche, é a escrita.+
e isso vale pra qualquer língua! mas aulas de português para estrangeiros sempre temos que chamar a atenção pra isso, não dá pra falar palavras como instagram short milkshake etc com pronuncia de fora, fica estranho, estraga o fluxo da conversa!
Ontem foi um dia muito importante pra mim.
Defendi o TCC com muita gente querida ao lado, e o resultado não poderia ter sido melhor. Não apenas nota 10, mas também recomendação para publicação, indicação a prêmio e, o mais importante, elogios da banca que superaram expectativas.+
Então nos últimos anos a pouca disputa em torno das pautas de costumes não conseguiu pressionar o Congresso. A alternativa, como inclusive tem sido no Brasil, é tentar a via judiciária. Mas o judiciário japonês também é muito conservador e com um sistema fechado. Não existe, por+
exemplo, ação de controle de constitucionalidade direta na suprema corte: tudo tem que começar lá de baixo. E os juízes de baixo tendem a não "inventar" muito fora dos precedentes porque quem decide a promoção na carreira deles são os seus superiores, que podem até demiti-los.+
Enfim, no momento existem duas possibilidades colocadas pra avançar a pauta do casamento homoafetivo:
- Com a mudança de governo recente, pode haver uma pressão no Congresso (teremos eleições em julho para a câmara alta, e alguns candidatos trazem a pauta); ou+
- Pela disputa judiciária dos recursos, já que a corte de Sapporo já divergiu com a de Osaka, chegar à suprema corte e tentar a sorte. Mas acho essa via muito difícil, porque normalmente uma coisa dessas vai precisar mudar a lei.
Como podem ver, o buraco é bem mais embaixo.+
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O Butantã ter desenvolvido vacina mesmo com todo o desmonte e sabotagem dos governos (estadual e federal) é uma coisa tão impressionante que faz a gente pensar o quanto o Brasil tem potencial pra ser um lugar bom de morar, e não esse pesadelo em que estamos vivendo
Satisfações tradutórias em O menino e a garça (pequeno spoiler):
"Periquito" é uma palavra sonoramente engraçada em japonês e em português, fazendo com que "grande rei periquito" gere um efeito tão cômico quanto "inko daiou"
Hoje, 15 de maio de 2022, completam-se 50 anos desde que o território de Okinawa, ocupado pelos Estados Unidos desde o final da Segunda Guerra Mundial, foi devolvido ao Japão.
Mas o que significa isso? 🧶
@CarcaraMarcio
Com certeza, e nesse caso é ainda mais estranho porque são territórios muito mais próximos da nossa realidade. Aliás nem as línguas indígenas com maior presença no Brasil são admitidas como produtoras de conhecimento.
Boa tarde tuiteiros, como vão?
Como alguns de vocês sabem, eu dou aulas de japonês para pagar minhas contas.
O início do ano é um ótimo momento para começar ou retomar projetos, então por que não aprender japonês com alguém que cresceu falando essa língua? 👇
Pessoalmente sou totalmente a favor pois o Ghibli claramente escolhe a cota fofa para não avacalharem com os personagens sérios - por isso não tem pelúcia do Haku fácil por aí
@nabucodonosor96
Na verdade, existem muitas crianças bilíngues que não são ricas, mas ninguém dá valor nesse caso porque são filhos de imigrantes. Esse papo de bilinguismo ser bom só cola quando dá dinheiro pra escola de inglês
Eu acho o seguinte, boa parte dos nipo-brasileiros “progressistas” têm dificuldade de lidar com a realidade do imperialismo japonês porque o Japão para nós sempre foi o que nos impedia de chegar à brasilidade, então sempre foi considerado o nosso lado racializado e “oprimido”.+
Essa aqui deve ter sido uma das melhores compras que já fiz na vida. Há pouco Telma me mandou um negócio sobre Miyazaki e marxismo e eu fiquei 1h pirando em Mononoke Hime
Quando pego esse livro fico só folheando e lendo trechos pra sempre ter coisa nova.
Uma fala do Miyazaki:
Uma coisa muito esperta do orientalismo é exatamente essa: o Ocidente inventa seu objeto de estudo e diz ter as melhores produções sobre esse objeto. Claro, porque foi ele que o inventou. Nunca é demais lembrar que orientalismo não é só uma doutrina, mas um campo de estudo.
Ainda sobre língua. No que percebo, as pessoas quando querem debochar do japonês basicamente adotam essas formas:
1) Soltam várias palavras aleatórias: "arigatô konitiwa, sushi sashimi..."
2) Usam um tom de voz alto e esquisito, acho que inspirado em gritos de lutas "orientais"+
De alguma forma o Pelé tem um impacto curioso na minha família. Meu avô, filho de imigrantes, foi da geração nipo-brasileira que resolveu ficar no Brasil. Então, quando meu pai nasceu, ele era o filho que deveria ser brasileiro: não aprender japonês, ir para a escola brasileira,+
O Japão tem passado e presente imperialistas? Sim.
Ao mesmo tempo, o Japão foi e é ocupado por forças militares estadunidenses? Sim.
O Japão é um país branco? Não.
O Japão colonizou povos? Sim.
O Japão está no centro do capital? Sim.
O Japão é vítima do imperialismo? Sim.+
Boa tarde tuiteiros, como vão?
Como alguns de vocês sabem, eu dou aulas de japonês para pagar minhas contas.
O início do ano é um ótimo momento para começar ou retomar projetos, então por que não aprender japonês com alguém que cresceu falando essa língua? 👇
O demônio é algo inerentemente mal, ardiloso, que muitas vezes é vil na inteligência e não na força.
Enquanto o oni é símbolo de força física, monstruosidade, mas não necessariamente malevolência. Tem a ver com um folclore que temia o desconhecido da natureza.
Na moral arroz japonês é muito muito muito gostoso, dá pra comer qualquer coisa com ele que fica uma delícia
Bife e salada? Arroz japonês
Arroz e feijão? Arroz japonês
Estrogonofe? Arroz japonês
Moqueca? Arroz japonês
Hambúrguer? Arroz japonês
Lasanha? Arroz japonês
@brendasafra
Oi Brenda, queria agradecer a retratação e dizer que, caso queira, posso apagar a imagem do tuíte. É raro ver na internet esse tipo de postura, fico feliz.
Também peço desculpas por eventuais transtornos. Minha intenção foi sempre informativa, e peço desculpas se me excedi.
Como resolver a contradição? Bom, tem muita gente pensando sobre isso. Não dá para resumir em tuítes, mas dá para dizer: a história é bem mais do que uma estória de mocinhos e bandidos. O que também é óbvio, mas difícil de se absorver porque o nosso modo de pensar é binário.+
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Na maior parte das histórias de oni, inclusive, quando derrotadas as criaturas pedem desculpas e devolvem o que roubaram.
A cisão entre mal e bem não é uma coisa tão rígida, o que é completamente diferente da ideia de demônio, que no ocidente se liga ao diabo em oposição a Deus.
Lembro da primeira vez que vi um mapa-múndi no Japão, com o Japão centralizado. Achei que estava errado e perguntei pra minha mãe. Ali entendi pela primeira vez o que significa de fato a Terra ser redonda.
晶 é a soma de três 日 (sol), desenhando uma luz cristalina.
Em japonês não falamos "floco de neve", mas "cristal de neve". Kesshou (結晶) significa cristal e sua primeira letra quer dizer "unir", "juntar". A segunda é a luz límpida, o cristal.
No japonês, o jeito de dizer "precisar fazer algo" é pela negação da negação: "não poder não fazer". Isso gera uma forma muito longa (...nakereba naranai ou ...nakyaikenai = precisar...) na língua padrão. Já em Kansai temos um jeito mais curto de dizer.+
Terminei de ler "Para além do orientalismo" de Kang Sang-jung e estou pensando pensamentos.
Kang é um coreano nascido no Japão e sua obra é imprescindível para pensar o Japão na relação com o que tem sido chamado de orientalismo.
Uma das principais teses é basicamente de que o+
O motivo da repaginação do Japão como um país pacífico e isolado do mundo, inocente, não cabe aqui. Fica para um outro momento.
De resto, apesar de ser verdade que o Japão violentou muita gente, está errado dizer que colonizou "metade da Ásia". Quem fez isso foram os europeus.
Não sei, esse papo humanas X exatas pra mim era uma coisa meio 2010, ou coisa que a gente encrenca no ensino médio...
Uma grande amiga formada no IME-USP uma vez me disse que matemática é uma ciência humana, eu fui convencido sabe
O interessante é que, quando chegou na escola técnica, que na época em São Paulo era polo da minoria modelo e lotada de nikkei, meu pai descobriu que muita gente teve a mesma ideia. Um monte de nikkei dessa época se chama Edson. Os filhos dos filhos que mudaram de pátria.
Vou destacar 2 pontos, baseado em Oguma Eiji e Kang Sang-jung:
1) O Japão é um caso de imperialismo tardio. Se entendemos o imperialismo como o estágio superior do capitalismo, o Japão chegou lá depois dos europeus. Isso quer dizer que a partilha do mundo já estava feita.+
Sobre a cultura do outro
Eu não consigo me imaginar dizendo "adoro a cultura x", especialmente se as categorias são nacionais. Quando alguém diz "adoro a cultura japonesa" ou "adoro a cultura brasileira", que são "minhas culturas" nacionais, olho com desconfiança, sempre.+
O português, por usar letra romana, consegue escrever milkshake desse jeitinho e ler do jeito que achar melhor (milque cheique). Hoje em dia, mesmo quem não sabe inglês sabe ler em inglês: se shake é cheique, make é meique e cake é queique. O máximo que fazemos é usar itálico.+
Aliás, português é uma língua que AMA pronomes. Tem uma beleza nisso também:
Cê pega isso pra mim?
Outro dia eu tava…
A minha mãe…
Quê que tu tem?
Me vê três pães…
Criaturas fantásticas em fantasias europeias e hollywoodianas não são traduzidas: orcs, goblins, trolls, até hoje nunca vi chamarem de demônio ou coisa do tipo. Justamente porque o tipo exato de criatura e as referências culturais conectadas costumam ser centrais nas narrativas.
Você sabia?
Nesta foto, os pés de Miyazaki estão cortados porque ele estava flutuando. Acredita-se que o diretor teria voltado no tempo e corrigido essa Contradição depois que vários tuiteiros perceberam que ele criticou os Estados Unidos mesmo tendo nascido no Japão!
Fiz uns tuítes despretensiosos sobre o livro de Kang Sang-jung, um coreano nascido no Japão, e aparentemente muita gente se interessou. Vou fazer um fio um pouco mais elaborado agora contando melhor sobre a obra "Para além do orientalismo: crítica à cultura moderna"👇
Numa lógica mais antiga da tradução, num mundo sem internet e em que rolava mais adaptações desses termos mitológicos, talvez fosse aceitável chamar oni de demônio. Mas hoje em dia, ainda mais com os anime fazendo parte da cultura pop globalizada, é muito ruim perpetuarem isso.
A queda da população amarela em quase 60% desde o último censo é mais uma mostra do quanto a gente não consegue ter dados confiáveis sobre a nossa existência. Ou talvez seja uma prova da nossa inexistência.+
Mas o japonês é uma língua que não usa letra romana. Não se escreve japonês em romano. O que fazer então para usar um termo estrangeiro num texto em japonês? Enfiar mais um tipo de letra em três que já existem? Ficaria assim:
"昨日の夜basketballの試合を観ながらaspargusを食べた"+
É a lógica de maltratar os outros para acalmar seu próprio sentimento de inferioridade e incivilidade. Oguma chama isso de sadismo.
Quando os EUA venceram a Guerra, o trabalho já estava feito. A hierarquia que vigorava no próprio Japão já era essa: EUA > Japão > resto da Ásia.+
Ódio à Ásia: ao se descobrir parte do Oriente, o Japão quer superar essa condição e inventa o seu próprio orientalismo. O Japão seria diferente do resto da Ásia porque teria conseguido se ocidentalizar. Ele se torna agente civilizador da Ásia e, com isso, seu representante.+
(Extra)
O kanji de oni (鬼) compõe algumas letras muito interessantes:
- 魅 (sedução, charme)
- 醜 (feio, feiúra)
- 魂 (alma, espírito)
A palavra pode servir de gíria/ expressão para designar intensidade ou força. Ex.: oni kawaii significa algo muito “fofo” (“kawaii”)
Inferioridade da Ásia: o Japão tenta se aproximar das potências ocidentais porque vê a si mesmo como povo arcaico que precisava se aproximar da civilização capitalista para superar sua inferioridade. O maior medo da elite japonesa do século XIX era ser colonizada.+
Por que então essa necessidade de falar que oni é um “demônio”? É um termo tão genérico que é quase um desrespeito pra quem vai consumir a mídia traduzida. E, se for essencial colocar alguma referência de tradução, que pelo menos não seja algo que traga tantas conotações no…
Assim, o imperialismo japonês precisou ser um imperialismo de proximidade. O Japão avançou na Ásia porque era o único caminho viável para sua expansão capitalista. Isso gerou um problema: como justificar a colonização da Ásia sendo um asiático? A resposta é o segundo ponto:+
2) O Japão produziu o orientalismo leste-asiático moderno. A geografia imaginada do leste da Ásia, adotada pelos EUA no pós-Guerra e utilizada por todos nós, foi inventada pelo Japão para resolver dois sentimentos: o de inferioridade da Ásia (劣亜) e o de ódio à Ásia (蔑亜).+
Minha bisavó falou pro meu avô que ia voltar pro Japão. Não deu. Meu avô decidiu ser brasileiro. Falou pro meu pai que ia ser brasileiro. Meu pai disse pra mim que somos brasileiros.
Eu vou dizer pros meus filhos destruírem o Brasil.
…contexto brasileiro quanto “demônio”. Se quiserem usar algo genérico, “monstro” ou “monstruosidade” já basta. Até mesmo “ogro”, que às vezes aparece, é mais aceitável. Mas o melhor mesmo é chamar pelo nome da criatura: oni.
Pessoas de ascendência asiáticas jamais serão assimiladas ao Brasil. Não tem conversa, o projeto de assimilação e sim senhor nós somos brasileiros bonzinhos e obedecemos não deu certo. São 200 anos de debate sobre o "tipo indesejável" e tá mais que provado que não tem saída pra+
o fato do Ziraldo ter se formado em Direito na UFMG e isto ser completamente irrelevante pra carreira profissional futura dele só mostra como o maior sucesso que um egresso do curso de direito pode ter é abandonar a área
Sobre katakana, tem um ponto também bem interessante que é: a legislação japonesa era escrita em katakana (e kanji) no pré-Guerra. Os textos antigos usavam muito mais katakana como o silabário genérico, isso dava um tom "oficial" pra coisa.+
Esse ponto eu acho particularmente fantástico. Existe um tipo de letra, das três que integram a escrita da língua, que foi eleito para escrever termos estrangeiros. O katakana naturalmente se destaca na frase.
A coisa é que o katakana foi feito para produzir sons japoneses.+
Hoje:
- Apresentei um trabalho em espanhol (não falava espanhol até uma semana atrás)
- Bebi tequila com doutores
- Fui parar numa festa no centro de Quito
E: passei no mestrado!!! Obrigado por todo mundo que me apoiou nessa amo vocês
Não seria impossível, mas não foi a opção (até porque japonês pode ser escrito na vertical, seria uma bagunça). Principalmente considerando a quantidade de estrangeirismo que tende a sempre aumentar.
Qual a solução? Escrever inglês, francês, português... em letras japonesas.+
Hoje estreia o último dos últimos no Brasil
Assistam, está impecável
Um tributo à vida, em que Miyazaki Hayao mostra diferentes maneiras de viver, inclusive a sua.
E pergunta: “Como vocês vão viver?”
Mais do que a resposta, acredito que ele mostra a importância da pergunta
Tem mais. Na real,o português não está tão longe disso.
Basquete não é basket. Sanduíche não é sandwich. Aliás, quimono não é kimono, muito menos 着物. A coisa é que, pelo avanço do inglês e do entendimento das suas regras de escrita, passamos a aportuguesar menos as grafias.+
@luancobain
@thiamparo
É sempre um absurdo que um país tão conectado ao continente africano pela sua população tenha tão pouca entrada de conhecimento vinda desses países. Ainda mais pensando que muitos deles produzem coisas nessas 6 línguas, como destacaram aqui.