Fernando Haddad declarou estar lendo Reinhart Koselleck. O Brasil vive sob um duplo milagre. Lula é um líder popular e sensato. Haddad é um ministro culto e sensato. É o que salva a gente em um mar de porras-loucas.
A Revista de História da Biblioteca Nacional foi um milagre. Mestrados e Doutorados de História eram defendidos em um mês e seis meses depois sínteses dessas pesquisas estavam em bancas de jornais. Jornalistas editavam, mas o texto original vinha de pesquisas da pós em História.
A Biblioteca Nacional teve a Revista de História. Agora deveria ter o Canal de História. O conteúdo da revista poderia servir de fonte para roteiros de videos. Seria um canal de combate ao Negacionismo.
Há historiadores que não aceitam o uso do termo "Brasil" em relação aos séculos XVI-XVIII, mas se referem alegremente ao termo "Alemanha" para esse mesmo período, quando essa região era denominada como “Sacro Império Romano-Germânico”. É urgente pensar em uma toponímia decolonial
É muito triste o Brasil. Fui comemorar um avanço civilizatório e fui atacado de todos os lados. As pessoas não entendem que o importante é começar um processo. Se os institutos federais tivesse sido criados e ampliados a partir de 1888, não teríamos tanta pobreza.
Eu acho os diários oficiais uma fonte fantástica. Eis aqui uma publicação de abril de 1935, refererente à contratação de Fernand Paul Achille Braudel (na época mais conhecido como Paul Braudel). Somente um gênio consegue ter alunos dando aulas sábados às 17 horas (rssss).
Acho engraçado historiadores apresentarem como revolucionário o uso da literatura como fonte, como se fosse algo recente esse uso. Ora, quase tudo escrito sobre História Antiga ou o Brasil do século XVI usou fontes literárias, de tragédias gregas às crônicas de viajantes europeus
Para entender Sérgio B. de Holanda é preciso ter em conta a mensagem: "vocês não sabem nada". Por ex., em 1935 o ensino de hist. do Brasil na USP foi entregue ao Instituto His. local, que dizia que os bandeirantes eram arianos. SBH escreveu clássicos mostrando que eram "caboclos"
Três livros que muitos colegas falaram para mim que seriam impossíveis de ser escritos: abandono de crianças nos séculos XVIII e XIX; circulação de escravos entre Portugal e Brasil colonial; e o mais recente sobre o abastecimento e consumo de vinho no Brasil, 1500-1822.
Em 1981 tive bolsa IC-PUCRJ sobre o fim da escravidão em Campos, centro escravista do RJ. Li 10 anos do Monitor Campista e percebi que além de escravistas e abolicionistas, havia “emancipacionistas”, corrente moderada e reformista. Em livro publiquei um capítulo com essa análise
@deltanmd
Não adiantou persegui-lo. Lula é uma ideia. É impossível prender uma ideia. Apesar de todo massacre que sofreu foi eleito presidente do Brasil.
A relação entre história e verdade pode ser resolvida pela crítica documental. O documento é fiel ao produtor do documento. É nessa relação que a verdade habita. Uma carta escrita por Hitler é importante não por ela registrar a verdade dos fatos, mas sim por ser fiel ao produtor.
A maior imbecilidade que existe é imaginar que as instituições arquivísticas guardam apenas a memória da elite. É o contrário, como essas instituições custodiam documentos de órgãos do Estado e o Estado sempre se preocupou em controlar o povo, esse povo é muito bem documentado.
O mais engraçado no debate do decolonial, descolonial, contra-colonial etc. é que tais intrepretações só funcionam se houver a adoção da interpretação clássica do sistema colonial, interpretação que, no Brasil, vem sendo contestada pelos historiadores desde a década de 90.
Não existe fonte documental que não possa ser reutilizada . Se a pergunta é inédita, a fonte também é. No livro "Vinho & Colonização" usei a hipercitada documentação do engenho Sergipe do Conde. Mas como a perguntas que fiz são novas, o que aflorou desta fonte é inédito.
Parabéns a todos pelo dia do historiador! A História é um campo de luta, portanto são bem-vindos, pelo menos para mim, os não-historiadores que escrevem livros de história. O que garante a qualidade de um livro de história é o conteúdo e não a carteira do sindicato.
O programa de repatriação de talentos do CNPq , divulgado pela FSP, parece meio confuso. Como serão mantidos os professores após a bolsa? Bom mais interessante seria a constituição de redes de pesquisa. Professores vivendo fora do Brasil, mas trabalhando em projetos brasileiros.
Anacronismo é o erro maior da pesquisa histórica. Mas não existe compreensão histórica sem anacronismos.Então, a solução é o anacronismo consciente. Por exemplo, quando digo "Idade Média" sei que quem viveu entre os anos 500 e 1500 não dizia: "Como é bacana viver na Idade Média".
A Vai Vai apresentou o escravocrata Borba Gato pixado e queimando. Isso, sim, que é sofisticação intelectual. Observem, os membros da escola não saem por aí tacando fogo, mas se apropriam do ocorrido para produzir algo ainda mais impactante. Tomara que seja premiada.
Perante a vasta biblioteca do escritor chileno Roberto Bolaño, um jornalista fez aquela fatídica pergunta imbecil: "Você leu todos estes livros?" Bolaño respondeu prontamente: "Não, alguns livros eu compro só para acariciar..."
A História, enquanto área do conhecimento, está se tornando tão importante quanto era no século XIX. Nesse último século, a historia justificava as pretensões nacionais, atualmente justifica as pretensões democráticas.
Uma imbecilidade que circula atualmente é a de que os arquivos públicos registram apenas a memória da elite. Na verdade, é o contrário: a classe dominante constituiu muitas instituições de poder e elas, ao funcionar, registraram inclusive e principalmente os grupos combatidos.
Quem quiser saber como eram feitas as pesquisas em arquivo há cem anos, pegue o Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Jr e veja as referências. Ele não frequentou arquivos, todos os documentos citados são transcrições publicadas, principalmente na RIHGB...
Em "Usos e abusos da história" de Margaret Macmillan: "É realmente lamentável que,justo agora que a história está se tornando mais importante em nossas discussões públicas, a maioria dos historiadores profissionais tenha abandonado o terreno, deixando o campo livre para amadores”
A História é um ser vivo. Essa é a beleza dela. Ser imprevisível. Imaginem se na eleição de 1950, a questão central fosse a proclamação da República em 1889. Pois bem, em 2026, o que vai estar em jogo é o sentido de 1964. A diferença temporal é mais ou menos a mesma.
A história é uma teorização sobre o tempo. Ou seja, não existe cronologia universal. Ou melhor, a cronologia universal é a cronologia ocidental. É preciso destruí-la.
No Brasil atual, o debate historiográfico mais interessante ocorre nas Escolas de Samba. A Viradouro trouxe como tema as sacerdotisas voduns estudadas por Aldair e Moacir.
No fundo, eles estão comemorando terem me passado a perna, pois houve quebra de contrato e acrescentaram quase 3 anos a mais no meu tempo mínimo de contribuição. Fomos verdadeiros patetas em 2019, ao deixarmos a reforma da previdência ser aprovada.
A disputa pelo passado nunca foi tão intensa. Histórias politicamente incorretas e negacionistas paralelos ajudam na expansão da extrema-direita. A sociedade paga aos historiadores das universidades para combater este lixo tóxico. Os historiadores precisam ter consciência disso.
Tenho notícias de um professor que se aposentou e vai abrir um bar, outro vai abrir uma consultoria, um terceiro declara que não vai fazer nada. Gostaria de me aposentar para ficar lendo livros. Alguns professores sofrem com o sucesso alheio. Felizmente não sinto essa melancolia.
O documento arquivístico é prova de uma atividade. Um processo inquisitorial prova a perseguição de um indivíduo. O conteúdo do processo, porém, é repleto de visões de mundo passíveis de crítica. O valor de prova do documento significa que a atividade que lhe deu origem existiu.
Uma ideia meio durkheimiana da história social, via Annales, é fascinante: a história pode ser ciência se o objeto for inconsciente aos que viveram o período. Por exemplo, a noção de "cultura popular" não existia no século XVI. Então é a pesquisa que dá sentido a esse objeto.
Em eventos da ANPUH sempre fiquei impressionado com a distribuição de gênero pelo tema da pesquisa. Nas comunicações de política e economia, predomínio masculino; nas de família e sexualidade, feminino. Ou seja, temas do espaço público, homens; temas de espaço doméstico, mulheres
@deltanmd
Se Lula é ladrão onde está o dinheiro que ele roubou? Foram sete anos de investigações e nada foi encontrado O que desmoraliza seu argumento foi também o fato de o inverso ter ocorrido com o candidato que o Sr apoiou: rachadinhas, compra de imóveis com dinheiro vivo, bolsolão etc
Há dois anos salvei os links de 20 bases de dados com acervos arquivísticos e/ou bibliográficos. Hoje constatei a desativação ou estagnação de 4 deles. É urgente a implementação de planos de manutenção. Esses projetos são feitos com recursos públicos e depois ficam sem apoio.
Tendo a uma interpretação elitista do bolsonarismo. Uma parcela considerável da população brasileira é orgulhosamente sem instrução (tipo aquelas que falaram que Israel é um país cristão). Então, Bolsonaro não criou nada, ele apenas deu sentido a essa gente desgarrada e sem rumo.
Uma cientista é eleita presidente do México. Ela é Ph.D. em engenharia de energia e autora de mais de 100 artigos e dois livros "sobre energia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável".
A escrita da História é sempre crítica às fontes. Por exemplo, se o historiador do futuro utilizar sem critica os filmes dos USA dos anos 1960 e 70, vai achar que era comum as pessoas desta época serem tragadas por areia movediça... Era muito comum cenas assim nestes filmes.
O fato histórico mais traumático do Brasil republicano foi 1964. Já se passaram praticamente 60 anos e esse fato continua orientando posicionamentos políticos e visões de mundo. Façam comparações: imaginem grupos em 1990 discutindo se deveríamos ou não apoiar a Revolução de 1930
Em 1959, SBH publica Visão do Paraíso. O debate dominante na esquerda era definir se o Brasil colonial foi feudal ou capitalista. Saber isso era fundamental para prever se a revolução seria burguesa ou comunista. Pois bem, SBH uma vez mais mostrou que esse pessoal não sabia nada
No Brasil, o "Liberalismo" é só um termo chique para encobrir um perverso "Darwinismo Social". Na tragédia do RGS isso está aflorando de forma transparente....
É poderosa a tradição ensaística da historiografia brasileira. Há ensaios clássicos. Mas acho que isso também tem a ver com nosso passado escravista. O bacharel considera desonroso o trabalho manual. Tranca-se na biblioteca e escreve. Só isso. Ir a um arquivo é sujar as mãos.
Talvez seja melhor dizer que a extrema-esquerda morreu (bolcheviques etc), ao passo que a esquerda reformista e democrática continua vivíssima... Foi essa Esquerda que conseguiu derrotar o fascismo em 2022. Aliás, quantos votos teve o professor da USP?
Antes de Hayden White, Lukács escreveu sobre a relação entre história e literatura. Em Balzac e o realismo francês afirma que Marx deve muito às caracterização do burguês deste autor. Literatura cria tipos e, uma vez que a sociedade se apropria desses tipos, torna-se força social
@gersongomes
É muito engraçado achar que um relógio do século XVII está funcionando... Os relógios desta época dependiam de dar corda, isso tinha de ser feito diariamente ou mesmo várias vezes ao dia. É bom lembrar que no século XVII não havia baterias ... A função deste relógio é decorativa
Quando minha filha tinha 5 anos dizia de eu era um "gigante médio". É o lindo pensamento mágico das crianças. Hoje um jornalista disse que existem extremistas moderados... É infantilidade ou má fé.
O pessoal daqui me lembra Macunaíma. Quando nosso herói viu numa praça um passarinho grande bicando um passarinho pequeno, pegou pedras para atirar no passarinho pequeno. Não adianta o PT fazer qualquer coisa, pois sempre será considerado horrível. São os mesmos malucos de 2013.
"Quixote está para a nossa cultura hispânica como Fausto está para a germânica. Fausto é o pacto com o demônio; Quixote é o pacto com a loucura". Celso Furtado. Diários intermitentes, p. 245.
Eu tive o privilégio de ser aluno de Manuela Carneiro da Cunha. Ela dizia que havia dois "Claude Lévi-Strauss". Um estruturalista, portanto, datado, e outro clássico, portanto, eterno. Tristes Tropiques (1955) faz parte da produção desse segundo Lévi...
Foi bom conhecer vocês, mas apoio integralmente tirar esta porcaria X do ar. Tomara que isso seja feito no Brasil e o Coringa bilionário sossegue um pouco.
O bom de eu não ser economista é poder dizer o que o eu cidadão pensa: a China pegou os ensinamentos da Cepal e os aplicou. Deu no que deu: em breve vai ser a maior potência mundial.
Há quem pense que os historiadores do século XIX consideravam que todos os documentos diziam a verdade. Uma criança de 5 anos sabe que não é bem assim... Os historiadores do século XIX seriam débeis-mentais? A confusão nasce devido a não compreensão da verdade como proveniência.
É interessante comparar a mobilização, ou seja, o número de participantes da Parada do Orgulho LGBT+ com o último 1 de maio, dia do trabalhador. O movimento de classe não mobiliza mais quase ninguém. A força política hoje está na autonomia do eu, enfim, individualismo liberal....
É estranho a tentativa de apagamento da importância das instituições arquivísticas. Reproduzir documentos dessas instituições sem citá-las é eticamente errado.
@deltanmd
Pô, você não entendeu a piada. O comunismo acabou em 1992, com o fim da União Soviética. Só uma pessoa muito debilitada mentalmente para achar que Dino é um "bolchevique". Ele não passa de um social-democrata moderado. Entende, agora, a piada?!
Se afirmo: "este documento é falso" isso quer dizer que admito a existência do "documento verdadeiro". Tal pressuposto, porém, não implica em dizer que o conteúdo do documento é reflexo exato da realidade, mas sim que a identidade do produtor não corresponde à verdade.